Não é segredo que eu, como a maioria das pessoas, tenho medo de ficar só (uma boa pista é a postagem só sobre isso). Mas, por algum motivo, fico muito bem quando todos viajam e tenho que ficar sozinha; muitas vezes, acho até reconfortante. Tenho o tipo de personalidade que precisa morgar em uma casa vazia de vez em quando.
Até hoje, nunca parei para pensar como eu faço isso se, para muita gente, estar sozinha por 1 hora já é muito. E eu, com a minha incrível capacidade de julgar essas pessoas, nunca consegui entender. Como dizia a frase mais famosa da série Lost: "Live together, Die alone" (viva junto, morra sozinho). Todos vamos acabar sós mesmo, não tem porquê se desesperar. Podemos tentar viver juntos, mas no fim morreremos sozinhos. Enfim, eu não sabia como eu fazia isso e, para falar a verdade, me sentia um pouco Dexter toda vez que falava com alguém e ninguém se identificava comigo.
Hoje bateu a filosofia da questão: numa linda tarde de terça-feira de carnaval, quando deu 13 horas da tarde eu não conseguia mais ficar sozinha. Liguei a TV, escutei "Total Eclipse of the Heart" até dizer chega, lamentei pela minha audição e até contei os zumbidos irritantes que não me deixam esquecer que estou ficando surda (foi uns 4, depois perdi a paciência de contar), fiquei olhando pela janela tentando encontrar um motivo para sair de casa mas lembrei que feriado não tem nada aberto, desisti.
Eu havia desaprendido a ficar sozinha. Deveria ter tomado notas, escrito em algum lugar como se faz ou simplesmente ter planejado alguma coisa que preenchesse todos os dias como eu faço obsessivamente. Depois de tentar contato com algum ser humano, desliguei o computador, a televisão e comecei a olhar para o nada, em busca de alguma coisa. Não me entendam mal, ainda tenho muito o que fazer, terminar um "personal statement" que deixei na metade e uma resenha crítica para mono, sem falar na casa. Mas sentar no sofá sozinha e perceber que eu não ia conseguir ficar mais sozinha a partir daquele momento me derrubou. Eu, que sempre critiquei pessoas carentes e dependentes, acabava de me tornar uma (P.S.: não julgar)
Essa história não teve um final feliz, por assim dizer. A noite chegou, a crise passou mas não consegui falar com qualquer alma viva. O final feliz dessa história é esse texto e a sua conclusão.
Concluí que não tenho a dinâmica do Dexter, apesar de sombriamente me identificar com muitas coisas que ele diz. Concluí que sou mesmo muito julgadora e que devia parar com isso. E o mais importante: eu fui arrogante ao achar que dominava a arte de ficar sozinha. Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer. Eu só fui esperta o suficiente para ocupar os meus dias de forma que eu não precise ficar comigo mesma. Quando era na UnB, fazia questão de ter aulas juntas e sem janelas, sempre com música. Quando em casa, me entupir de livros, filmes, novelas e seriados.
Tenho que re-aprender a ficar sozinha de novo, do contrário as coisas podem desandar. Coisas simples, como, por exemplo, a vida.